quarta-feira, 8 de junho de 2011

Saladas e impressionistas

Saímos do Invalides em busca de um lugar para almoçar e nos lembramos de um restaurante simpático que ficava ao lado do local onde havíamos comido os crêpes. O lugar era bem gostoso, com mesas numa área aberta sombreada por um toldo e pelas árvores da calçada.

Rejane e eu pedimos saladas e não nos arrependemos. Não foi aquela saladinha de folhas básica pra quem está fazendo dieta, e sim uma salada de respeito! Uma era de arroz e a outra de macarrão, frios, naturalmente, e com uma variedade deliciosa de "incrementos": atum desfiado, tomate picado, cenoura ralada, champignon, azeitonas, lascas de parmesão, frango desfiado... Cada um delas com alguns desses itens, mas ambas com a mesma apresentação, que achamos genial: com fatias de pepino cortadas no sentido do comprimento, como se fossem faixas largas, é montado um aro, colocado no centro do prato, dentro do qual vai a "super salada". Em volta dele ficam as verduras: rúcula, alface, endívia e outras. Sobre tudo isso, um molho delicioso, à base de mostarda ou de azeite temperado. Pra acompanhar, vinho branco gelado e u-lá-lá!

Saímos de lá refeitos e seguimos para a estação de metrô que nos deixou no museu D'Orsay, a escolha da Rejane. Infelizmente, é proibido fotografar lá dentro, a máquina tem que ser deixada dentro da bolsa, na chapelaria, portanto só conseguimos imagens das estátuas de alguns bichinhos meigos e delicados que ficam do lado de fora.


Se por um lado é chato não poder fotografar - e depois mostrar aos amigos, comentar e relembrar - por outro é muito melhor durante a visita, pois sem a preocupação de escolher o que vai ser documentado, a apreciação é mais tranquila.

O Museu D'Orsay funciona numa antiga estação de trem, portanto já dá pra ter ideia do tamanho do local. A distribuição dos espaços era mais ou menos conforme o esquema a seguir (e me perdoem os conhecedores e arquitetos por todas as falhas que ele possa apresentar, a intenção é só facilitar a descrição). Não coloquei as escadas e os diversos acessos aos andares, porque aí também seria muita pretensão...


A entrada é pelo terraço e de lá há várias escadas para a galeria central, onde ficam as esculturas, ou para as laterais, onde estão os quadros. A partir dessas galerias há entradas para salas, que às vezes são ligadas entre si. Em algumas delas há subdivisões internas e paredes, que são altamente necessárias quando o negócio é exibir quadros.

Ao contrário do Louvre, onde me deliciei principalmente com as esculturas, no Orsay resolvi investir meu tempo e minha atenção aos quadros. Começamos pela longa galeria à direita, onde estão algumas obras impressionistas bastante importantes. O problema é que para se apreciar uma obra desse estilo como se deve, há que se dar uma certa distância do quadro, o que era impossível não só devido à largura da galeria, com quadros dos dois lados, mas porque havia muita gente. Além de serem muitas pessoas, elas "passeavam" pelo espaço central da galeria como se estivessem num shopping olhando as vitrines, sem parar para apreciar coisa alguma, conversando entre si, empurrando carrinhos de bebê e andando num ritmo constante, como se estivessem cumprindo uma obrigação.

Ainda bem que as salas internas eram mais vazias, já que o "dever" de entrar no Orsay não devia incluir uma visitação completa; olhar o que estava mais à mostra devia ser o suficiente.

O acervo exposto é simplesmente incrível, daria para passar dias observando com cuidado não só as obras em si, mas a própria história da arte, pelas diferenças de técnicas e concepções artísticas que se sucedem, sala após sala.

Uma situação engraçada ocorreu na sala em que estão as obras de Gustave Courbet, um pintor realista que costumava escandalizar o público da época com seus nus. Uma de suas obras mais famosas é "A origem do mundo", que mostra o corpo de uma mulher nua, deitada, do início das coxas até os seios, com o ângulo de visão partindo de seus genitais. Como a obra é realista, dá pra imaginar o choque das pessoas ao dar de cara com "AQUILO"!

Para não causar constrangimentos, a tela fica numa das salas internas (na que eu desenhei no centro à esquerda), na parede interna, voltada para dentro, de modo que as pessoas que passam na galeria ou apenas dão uma espiada na sala não a veem. Era curioso observar as pessoas que chegavam até ela: as mulheres, em geral, davam risadinhas, principalmente as orientais. Uma senhora fez cara de reprovação, mas o melhor foi um homem, americano, que entrou na sala com dois meninos pequenos, de 5 e 8 anos, mais ou menos. As crianças não viram o quadro logo que entraram, mas assim que o pai enxergou, fez cara de choque total e, notando que os filhos ainda não haviam percebido a imagem, comentou que ali não havia nada de interessante para ser visto e foi "tocando" os dois pra fora da sala.

Essas galerias e salas laterais não ocupam altura total do prédio, como é o caso da galeria central. Há um segundo andar com salas que expõem fotografias e, melhor que tudo, peças e mobiliário no estilo Art Nouveau. Ficamos simplesmente encantadas com a reprodução dos ambientes e lamentei não poder fotografá-los, pois seriam extremamente úteis nas aulas de História do Design.

Havíamos combinado um horário para nos encontrar e encerrar a visita, já que cada um seguiu por um caminho, de acordo com o interesse. Como era o penúltimo dia de nossa viagem e havíamos encarado caminhadas e escadas a semana inteira, o cansaço já estava se manifestando, mas nada que uma paradinha nos bancos da galeria central, apreciando as esculturas e a própria arquitetura interna do Museu, não resolvesse.

Passamos ainda na lanchonete, estrategicamente colocada sob o Terraço (aliás, há diversos lances de escadas levando a andares superiores, inferiores ou à meia altura, dependendo de onde se está), onde conseguimos encontrar água de uma das marcas que havíamos aprovado. Considerando o calor que enfrentaríamos do lado de fora, era necessário nos hidratarmos antes de sair.

Caminhamos até o metrô e lá, dentro da estação, uma agradável surpresa: um grupo de artistas de algum país da Europa Oriental - reconhecidos por nós pelo estilo da música - cantando e tocando.


A música nos deixou tão animados, que o Luís deu mais uma demonstração de seu cavalheirismo, ajudando uma mulher a levar o carrinho de bebê, COM o bebê dentro dele, escada acima, num dos locais onde não havia escada rolante.