Logo abaixo do primeiro patamar, que fica após o último lance de escadas para se chegar á basílica, há três fontes incrustadas em nichos semelhantes a grandes conchas.
E a partir daí, descendo sempre, jardins maravilhosos.
Nossa próxima parada era o edifício da Ópera de Paris, para onde resolvemos ir a pé, caminhando pelo bairro de Montmartre. Só que, depois da subida de tantos degraus na Sacré-Coeur, precisávamos de mais "combustível", e começamos a procurar algum lugar simpático onde pudéssemos parar pra fazer um lanchinho. Encontramos um restaurante que também servia porções numa das ruas logo abaixo dos jardins da basílica, com mesinhas na calçada sob um toldo que protegia do sol que estava começando a mostrar que aquele seria um dia de verão característico da era do aquecimento global.
Nos acomodamos e pedimos uma porção de pão de alho e queijos, vários queijos. Não apenas porque todos do grupo amam os queijos que aqui no Brasil custam tão caro e lá são tão em conta, mas também porque na bolsa da Rejane estavam os restos mortais dos queijos que havíamos comprado para o piquenique no quarto do Luís, alguns dias antes. Claro que eles haviam ficado na geladeira do hotel esses dias todos, mas não estávamos pretendendo levá-los no avião, então teríamos que consumi-los antes de embarcar, e para isso tivemos que tirá-los discretamente do saquinho plástico onde estavam embalados e misturá-los com os queijos da porção que pedimos.
Enquanto estávamos só nós no restaurante, mantivemos a maior finesse, mas assim que outro casal se acomodou e o garçon entrou para fazer o pedido deles à cozinha, rapidamente abrimos as embalagens e colocamos nossos pobres queijos tão amassados junto com os outros. Verdade seja dita: estavam todos muito bons!
Felizes e satisfeitos, e com a bolsa um pouco mais leve, iniciamos a descida até o nosso destino, apreciando o charme desse bairro que passou a fazer parte da cidade de Paris apenas em 1860, tornando-se então o centro da vida boêmia local, com seus cabarés frequentados por artistas e intelectuais.
Não foi por acaso que boêmios e artistas encontraram em Montmartre o seu espaço: tratava-se de um local afastado o suficiente das residências nobres, onde dançarinas de cancan, prostitutas e bebedores de absinto podiam circular sem afrontar o convencionalismo burguês.
E os homens bem nascidos que apreciavam a excitação dos cabarés e a intensidade presente na vida e nos ateliês dos artistas sabiam onde encontrar tudo isso, principalmente no período da Belle Époque, quando a vida intelectual europeia tinha por base a "Cidade Luz" e pelas ruas de Montmartre circulavam Van Gogh, Renoir, Degas, em busca de suas bailarinas, Monet, Cézanne e Toulouse-Lautrec, com suas magníficas obras que muitas vezes retratam a vida real por trás dos bastidores.
Atualmente o bairro continua charmoso, mas a vida noturna é muito mais direcionada para turistas, com uma boemia mais calcada no consumo do que nas discussões intelectuais e na livre expressão da arte.
Cruzamos a Place Pigalle, tradicional ponto de prostitutas, sex-shops e cinemas que exibem filmes pornôs, àquela hora da manhã uma praça comum, com turistas de bermuda e francesas de salto alto circulando normalmente. Na rua que tomamos a seguir, sempre observando as pequenas vielas e alguns prédios bem característicos, passamos por um local que vendia frutas, e entre elas um monte de cerejas. Não deu pra resistir! Elas são bem maiores do que as que a gente encontra aqui em São Paulo, estavam vermelhinhas, as cascas brilhantes... comprei meio quilo, num saquinho de papel, e fizemos o restante de nossa caminhada nos deliciando com elas.