Saindo da Notre-Dame, seguimos para o Quartier Latin e nesse dia resolvemos fazer a coisa certa e comer na hora de comer. Isso porque, nos dias anteriores, ficamos tão empolgados com o que estávamos vendo que fomos deixando pra almoçar mais tarde e não aproveitamos as possibilidades que os restaurantes oferecem. Entre meio-dia e duas da tarde, a maioria dos restaurantes oferecem o
plate de jour: por um valor que varia entre € 10,00 e € 17,00 (dependendo do bairro e do restaurante) é possível escolher uma entrada e um prato principal ou um prato principal e uma sobremesa. No caso do Quartier Latin, como é tradicionalmente local de estudantes e mochileiro era possível ter um almoço completo, com entrada, prato principal e sobremesa.
A variedade de restaurantes é enorme: cozinha francesa provençal, frutos do mar, comida grega, pizza, sanduíche... Optamos por um que oferecia escargots entre as entradas do plate de jour.
O interior do lugar era super brega, com coisas penduradas nas paredes e no teto, parecendo aquelas cantinas italianas do Brás ou do Bixiga, em São Paulo, e por isso mesmo, muito à vontade e aconchegante. Havia até a cabeça de um javali empalhado numa das paredes, mas a foto dele não ficou boa.
Ivan e eu pedimos os escargots e fizemos bonito: usamos as pinças direitinho e tiramos os bichinhos de dentro das cascas com aquele garfinho chique sem fazer nenhum deles sair voando pela mesa. Apesar de muita gente ter nojo, o escargot tem a consistência parecida com a de um marisco e o sabor é principalmente o do tempero com o qual ele é preparado, geralmente bastante salsinha, azeite e alho.
Confirmamos nessa refeição que a hora de comer é o momento sagrado dos franceses. Eles normalmente correm o tempo todo: no trânsito, com a mão na buzinha e dirigindo como loucos, no metrô, correndo pela esquerda como se nunca mais fosse chegar um trem, na cidade, atravessando as ruas antes do sinal abrir. Porém, quando sentam-se pra comer, é o maior sossego.
O garçom chega com o cardápio e já traz o pão e a jarrinha com água. Volta uns minutos depois pra ver a bebida que escolhemos. Quando traz as bebidas, é só isso, não fica pra pegar o pedido, porque, afinal, temos que ter tempo pra escolher com calma entre as várias opções. Volta depois de algum tempo e pega os pedidos das entradas. Elas demoram um pouco mas valem a pena. Só quando acabamos com elas é que ele volta pra saber quais serão os pratos principais.
Nesse dia, a não ser a Rejane, escolhemos carne: boeuf borguignon (uma espécie de "cozido da mãe", conforme disse o Ivan, mas com um molho com vinho) e uma espécie de filé com molhos a escolher: bernaise (mais ou menos uma maionese quente, foi a escolha do Luís), au poivre (com pimenta, foi meu preferido) ou béchamel (o nosso conhecido molho branco).
Os pratos demoram um pouco e eu fiquei só imaginando como estariam meu irmão e minha cunhada se estivessem com a gente. Eles são super impacientes quando estamos num restaurante, ficam agoniados pra todo mundo escolher o que vai comer, escrevendo o pedido num guardanapo e passando pro garçom pra não perder tempo. Iam tem um troço!
Mas a espera valeu, a comida estava deliciosa e ainda deu tempo da gente trocar impressões sobre o que vimos. Uma das coisas que chama atenção é a maneira das francesas se vestirem. Como era verão, a maioria absoluta usava vestidos ou saias em tecidos leves e com estampas delicadas. Tudo muito feminino, bem diferente do esquema brasileiro em que a mulherada tem que se embalar a vácuo pra se sentir atraente. Lá não tem aquelas calças ou blusas super justas que parecem que vão estourar caso a pessoa dê um espirro, nem decotes exagerados ou calças quase no púbis. E nem por isso elas deixam de ser atraentes, com as sainhas curtas e esvoaçantes.
Após a sobremesa circulamos um pouco mais pelas ruas do Quartier Latin para seguir rumo à Saint Chapelle, nossa próxima parada. E só pra não passarmos por mentirosos dizendo que não vimos cachorros ou gatos pela rua, encontramos um gatinho embaixo da mesa de outro restaurante.