terça-feira, 14 de setembro de 2010

Sainte-Chapelle - capela inferior

Depois do ótimo almoço, seguimos para a visita à Sainte-Chapelle. Passamos por uma fila na entrada do Palácio da Justiça, pela bilheteria onde tínhamos comprado os ingressos pela manhã e... cadê a entrada? Por sugestão do Luís, continuamos e viramos a esquina, mas demos de cara com as paredes da Conciergerie e, apesar de vermos o pináculo da capela no interior desses muros, não havia indicação de qualquer portão por aquele lado.

Resolvemos voltar e descobrimos que aquela fila pela qual havíamos passado era formada por um monte de gente que pretendia ir ao mesmo local que nós. Acontece que, originariamente, o local onde hoje fica o Palácio da Justiça era o palácio real, e hoje a capela fica num pátio cercada pelos prédios dos tribunais e outros setores ligados ao poder judiciário francês.

Pegamos a fila menor, já que não precisávamos comprar ingressos, e tivemos que passar por detectores de metal e colocar bolsas e mochilas pra serem examinadas pelo raio X. O curioso é que de vez em quando alguém "furava" a fila: advogados, por exemplo, ou mesmo pessoas comuns que estavam indo ao Palácio da Justiça cuidar da vida e não tinham tempo pra ficar esperando aquela leva de turistas.

Pelo fato da capela ficar cercada por outros prédios, é muito difícil ter-se uma vista total da construção, então tivemos que registrá-la aos pedaços.


A primeira visão externa que temos é a de uma das laterais, bem como do pináculo reconstruído por Viollet-le-Duc, pois o original foi destruído durante a Revolução Francesa. É possível perceber também que a maior parte da construção é composta de vitrais.


A Sainte-Chapelle foi construída no reinado de Luís IX, posteriormente São Luís, que durante sua participação na sétima cruzada comprou do rei Balduíno II, em Constantinopla, a coroa de espinhos de Cristo. A capela, portanto, tinha como função a guarda dessa relíquia e, por isso, teve uma construção muito rápida: o projeto, seguindo a orientação para que ela tivesse a forma de um relicário, é de 1241, ela foi iniciada em 1246 e concluída dois anos depois.

A flor-de-lis, símbolo da monarquia francesa, está presente na decoração externa, bem como figuras humanas bastante estranhas que parecem estar no lugar de gárgulas, funcionando como canais para o escoamento da água da chuva.














Por estar tão cercadas de outras construções, ficava difícil ter uma visão completa do exterior da capela.








Mesmo assim era possível perceber, numa vista frontal, que tratam-se de duas capelas sobrepostas: a inferior destinada aos funcionários e moradores do palácio, e a superior para uso da família real.







No tímpano da capela inferior havia a cena da coroação da virgem, bastante semelhante ao do Portal da Virgem da Notre-Dame: Cristo abençoa a mãe, um anjo vem colocar-lhe a coroa na cabeça e dois anjos, um de cada lado do casal central, portam candelabros.


Não há, porém, o detalhamento de uma série de figuras nas arquivoltas, talvez devido a rapidez com que a construção foi realizada, impedindo a criação de detalhes decorativos mais elaborados.





No pilar central temos a imagem da virgem com o menino no colo e, sob seus pés, uma figura que parece ter cabeça humana, feminina até, mas com um corpo de animal e patas com garras. Essa estátua de Maria, porém, não é a original, que se encontra no museu do Louvre.












Decorando a base desse portal de entrada, há relevos da flor-de-lis, representando a França e o rei Luís IX, e outros de castelos, simbolizando a rainha-mãe, Branca de Castela, que foi regente após a morte do marido e mesmo depois que o filho assumiu integralmente o trono, continuou como sua conselheira.


Ao entrar na capela inferior, uma surpresa: ela é escandalosamente colorida, de uma forma a que não estamos acostumados a ver em igrejas.














Esse, porém, era o padrão utilizado na Idade Média, e se repete em todos os espaços da capela inferior, bem como na pintura do teto onde fica o encontro dos arcos.


O dourado também é bastante presente, uma vez que simbolizava a riqueza e o poder, e podia ser visto no ícones que decoravam internamente a capela inferior. Além das cores e do ouro, pedras coloridas compunham a moldura para as personagens sagradas.































Os delicados vitrais na capela inferior, por sua vez, já nos preparavam para o que iríamos encontrar subindo a escada em caracol.







terça-feira, 7 de setembro de 2010

Escargots!

Saindo da Notre-Dame, seguimos para o Quartier Latin e nesse dia resolvemos fazer a coisa certa e comer na hora de comer. Isso porque, nos dias anteriores, ficamos tão empolgados com o que estávamos vendo que fomos deixando pra almoçar mais tarde e não aproveitamos as possibilidades que os restaurantes oferecem. Entre meio-dia e duas da tarde, a maioria dos restaurantes oferecem o plate de jour: por um valor que varia entre € 10,00 e € 17,00 (dependendo do bairro e do restaurante) é possível escolher uma entrada e um prato principal ou um prato principal e uma sobremesa. No caso do Quartier Latin, como é tradicionalmente local de estudantes e mochileiro era possível ter um almoço completo, com entrada, prato principal e sobremesa.








A variedade de restaurantes é enorme: cozinha francesa provençal, frutos do mar, comida grega, pizza, sanduíche... Optamos por um que oferecia escargots entre as entradas do plate de jour.





O interior do lugar era super brega, com coisas penduradas nas paredes e no teto, parecendo aquelas cantinas italianas do Brás ou do Bixiga, em São Paulo, e por isso mesmo, muito à vontade e aconchegante. Havia até a cabeça de um javali empalhado numa das paredes, mas a foto dele não ficou boa.


Ivan e eu pedimos os escargots e fizemos bonito: usamos as pinças direitinho e tiramos os bichinhos de dentro das cascas com aquele garfinho chique sem fazer nenhum deles sair voando pela mesa. Apesar de muita gente ter nojo, o escargot tem a consistência parecida com a de um marisco e o sabor é principalmente o do tempero com o qual ele é preparado, geralmente bastante salsinha, azeite e alho.

Confirmamos nessa refeição que a hora de comer é o momento sagrado dos franceses. Eles normalmente correm o tempo todo: no trânsito, com a mão na buzinha e dirigindo como loucos, no metrô, correndo pela esquerda como se nunca mais fosse chegar um trem, na cidade, atravessando as ruas antes do sinal abrir. Porém, quando sentam-se pra comer, é o maior sossego.

O garçom chega com o cardápio e já traz o pão e a jarrinha com água. Volta uns minutos depois pra ver a bebida que escolhemos. Quando traz as bebidas, é só isso, não fica pra pegar o pedido, porque, afinal, temos que ter tempo pra escolher com calma entre as várias opções. Volta depois de algum tempo e pega os pedidos das entradas. Elas demoram um pouco mas valem a pena. Só quando acabamos com elas é que ele volta pra saber quais serão os pratos principais.

Nesse dia, a não ser a Rejane, escolhemos carne: boeuf borguignon (uma espécie de "cozido da mãe", conforme disse o Ivan, mas com um molho com vinho) e uma espécie de filé com molhos a escolher: bernaise (mais ou menos uma maionese quente, foi a escolha do Luís), au poivre (com pimenta, foi meu preferido) ou béchamel (o nosso conhecido molho branco).

Os pratos demoram um pouco e eu fiquei só imaginando como estariam meu irmão e minha cunhada se estivessem com a gente. Eles são super impacientes quando estamos num restaurante, ficam agoniados pra todo mundo escolher o que vai comer, escrevendo o pedido num guardanapo e passando pro garçom pra não perder tempo. Iam tem um troço!

Mas a espera valeu, a comida estava deliciosa e ainda deu tempo da gente trocar impressões sobre o que vimos. Uma das coisas que chama atenção é a maneira das francesas se vestirem. Como era verão, a maioria absoluta usava vestidos ou saias em tecidos leves e com estampas delicadas. Tudo muito feminino, bem diferente do esquema brasileiro em que a mulherada tem que se embalar a vácuo pra se sentir atraente. Lá não tem aquelas calças ou blusas super justas que parecem que vão estourar caso a pessoa dê um espirro, nem decotes exagerados ou calças quase no púbis. E nem por isso elas deixam de ser atraentes, com as sainhas curtas e esvoaçantes.

Após a sobremesa circulamos um pouco mais pelas ruas do Quartier Latin para seguir rumo à Saint Chapelle, nossa próxima parada. E só pra não passarmos por mentirosos dizendo que não vimos cachorros ou gatos pela rua, encontramos um gatinho embaixo da mesa de outro restaurante.