Resolvemos voltar e descobrimos que aquela fila pela qual havíamos passado era formada por um monte de gente que pretendia ir ao mesmo local que nós. Acontece que, originariamente, o local onde hoje fica o Palácio da Justiça era o palácio real, e hoje a capela fica num pátio cercada pelos prédios dos tribunais e outros setores ligados ao poder judiciário francês.
Pegamos a fila menor, já que não precisávamos comprar ingressos, e tivemos que passar por detectores de metal e colocar bolsas e mochilas pra serem examinadas pelo raio X. O curioso é que de vez em quando alguém "furava" a fila: advogados, por exemplo, ou mesmo pessoas comuns que estavam indo ao Palácio da Justiça cuidar da vida e não tinham tempo pra ficar esperando aquela leva de turistas.
Pelo fato da capela ficar cercada por outros prédios, é muito difícil ter-se uma vista total da construção, então tivemos que registrá-la aos pedaços.
A primeira visão externa que temos é a de uma das laterais, bem como do pináculo reconstruído por Viollet-le-Duc, pois o original foi destruído durante a Revolução Francesa. É possível perceber também que a maior parte da construção é composta de vitrais.
A Sainte-Chapelle foi construída no reinado de Luís IX, posteriormente São Luís, que durante sua participação na sétima cruzada comprou do rei Balduíno II, em Constantinopla, a coroa de espinhos de Cristo. A capela, portanto, tinha como função a guarda dessa relíquia e, por isso, teve uma construção muito rápida: o projeto, seguindo a orientação para que ela tivesse a forma de um relicário, é de 1241, ela foi iniciada em 1246 e concluída dois anos depois.
A flor-de-lis, símbolo da monarquia francesa, está presente na decoração externa, bem como figuras humanas bastante estranhas que parecem estar no lugar de gárgulas, funcionando como canais para o escoamento da água da chuva.
Por estar tão cercadas de outras construções, ficava difícil ter uma visão completa do exterior da capela.
Mesmo assim era possível perceber, numa vista frontal, que tratam-se de duas capelas sobrepostas: a inferior destinada aos funcionários e moradores do palácio, e a superior para uso da família real.
No tímpano da capela inferior havia a cena da coroação da virgem, bastante semelhante ao do Portal da Virgem da Notre-Dame: Cristo abençoa a mãe, um anjo vem colocar-lhe a coroa na cabeça e dois anjos, um de cada lado do casal central, portam candelabros.
Não há, porém, o detalhamento de uma série de figuras nas arquivoltas, talvez devido a rapidez com que a construção foi realizada, impedindo a criação de detalhes decorativos mais elaborados.
No pilar central temos a imagem da virgem com o menino no colo e, sob seus pés, uma figura que parece ter cabeça humana, feminina até, mas com um corpo de animal e patas com garras. Essa estátua de Maria, porém, não é a original, que se encontra no museu do Louvre.
Decorando a base desse portal de entrada, há relevos da flor-de-lis, representando a França e o rei Luís IX, e outros de castelos, simbolizando a rainha-mãe, Branca de Castela, que foi regente após a morte do marido e mesmo depois que o filho assumiu integralmente o trono, continuou como sua conselheira.
Ao entrar na capela inferior, uma surpresa: ela é escandalosamente colorida, de uma forma a que não estamos acostumados a ver em igrejas.
Esse, porém, era o padrão utilizado na Idade Média, e se repete em todos os espaços da capela inferior, bem como na pintura do teto onde fica o encontro dos arcos.
O dourado também é bastante presente, uma vez que simbolizava a riqueza e o poder, e podia ser visto no ícones que decoravam internamente a capela inferior. Além das cores e do ouro, pedras coloridas compunham a moldura para as personagens sagradas.
Os delicados vitrais na capela inferior, por sua vez, já nos preparavam para o que iríamos encontrar subindo a escada em caracol.
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