sábado, 30 de julho de 2011

Na basílica do Sagrado Coração

A igreja atual recebeu o título de basílica, ou seja, um local de peregrinação, no ano de 1919, quando foi consagrada. Sua construção, iniciada em 1875, está ligada à guerra franco-prussiana, porém essa é uma as poucas unanimidades em sua história, já que existem várias versões para explicar o motivo de sua edificação.

Sabe-se que dois comerciantes da região, Alexandre Legentil e Hubert Rohault de Fleury, foram os responsáveis não apenas pela iniciativa de erguer a igreja, mas também por iniciarem os donativos e lutarem pelo financiamento junto ao Cardeal Arcebispo de Paris e aos órgãos legais. O que gera dúvidas é o motivo que os levou a fazer tal promessa: uma das versões afirma que, iniciados os conflitos entre a Prússia e a França, ambos fizeram a promessa de erguer um templo dedicado ao Sagrado Coração caso seu país resistisse às ofensivas do exército inimigo - o que não aconteceu, pois, iniciada em 1870, a guerra terminou no ano seguinte, com a derrota francesa e a assinatura de um tratado que criou a Alemanha como nação e passou para o controle desse novo país a Alsácia e a Lorena, regiões francesas ricas em ferro e carvão mineral.


Uma segunda versão defende que Alexandre e Hubert tinham uma visão espiritual a respeito dos problemas que seu país atravessava, como a guerra com a Prússia e a crise ocorrida com a criação da Comuna de Paris, o primeiro governo operário da história. Nesse caso, a construção da igreja seria uma forma de reparação, penitência pelos pecados cometidos pela população.

Outra explicação, por fim, defende que a igreja foi construída em homenagem aos 58 mil mortos da guerra franco-prussiana. Porém, qualquer que tenha sido o motivo de sua construção, a igreja é uma das referências da cidade, com sua cúpula central erguendo-se a 80 metros de altura, circundada por quatro cúpulas menores, todas em estilo bizantino, e seus arcos e colunas típicamente romanos.

À frente da cúpula central há uma enorme estátua do Sagrado Coração, que dá nome à igreja...

















... ladeada por estátuas de Luís IX, o São Luís, que trouxe a coroa de espinhos de Cristo para a França... 

















... e de Joana D'Arc, a santa padroeira da França.




















Infelizmente não é permitido fotografar no interior da igreja, portanto, como nesse blog só há fotos feitas pelos viajores, não será possível visualizar o incrível mosaico de seu interior, o maior da França, que cobre 473 metros quadrados e levou quatro anos para ser completado. Ele não apenas é imenso e imponente, mas também maravilhoso em sua característica bizantina, com as auréolas douradas de Cristo, Maria e do anjo. A seus pés estão a Igreja, representada por um bispo, e a França, por uma mulher portando uma coroa, além da frase "No Coração Santíssimo de Jesus, a França fervorosa, penitente e agradecida."

Os detalhes bizantinos externos, porém, além de bastante evidentes, podem ser fotografados à vontade!


A Sacré-Coeur também tem três portais, como as igrejas góticas, mas sua decoração é bem mais sóbria. No tímpano do portal esquerdo há um relevo de Cristo conduzindo penitentes (ou talvez lagelando-os), sobre a frase Este templo é um penhor da penitência e da devoção.

















No portal central, o relevo mostra o momento em que Longinus, um centurião romano, perfura o flanco de Jesus. Sob o relevo, a frase Ao Santíssimo Coração de Jesus.


O último portal, do lado direito, tem em seu tímpano a representação de Cristo abençoando os sofredores, e sob a imagem, a frase A França, agradecida, dedica no dia 16 de outubro de 1919.

O curioso é que as frases tanto funcionam de forma independente, cada uma com seu sentido próprio, como podem formar um período mais longo: Esse templo, penhor de penitência e devoção, ao Santíssimo Coração de Jesus, a França, agradecida, dedica em 16 de outubro de 1919. Mais bizantino, impossível!

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Rumo à Sacré-Coeur

Conforme acertado no dia anterior, após o café da manhã fizemos o check-out no hotel, deixamos nossas malas no guarda-volumes e seguimos para o metrô rumo a Montmartre.

Por todas as vezes que havíamos avistado a Sacré-Coeur, já sabíamos que ela ficava no alto da única colina que há em Paris, que é uma cidade bastante plana. Só que como pretendíamos subir ao domo da igreja para apreciar a vista, subir o morro para chegar até ela estava fora dos nossos planos, por mais que nos doesse o coração não poder fazer um passeio longo e descompromissado seguindo as pegadas de Amélie Poulain. Porém, antes esse tipo de dor no coração do que dor nas pernas...

A opção, portanto, foi tomar o metrô até a estação Anvers e de lá caminhar até o funicular. Como sempre saíamos cedo, as lojas no entorno estavam fechadas, o que não nos impediu de admirar uma loja apenas de doces: biscoitos, balas, bombons... a própria fornecedora da bruxa da história de João e Maria!



Continuamos caminhando e chegamos ao funicular, que é pago com o mesmo passe que é utilizado no metrô. A cabine sobe, pelo plano inclinado, até o alto da colina onde fica a igreja.
Montmartre é "monte dos mártires" e o local recebeu esse nome por ter sido o local do martírio de Saint Denis, o primeiro bispo de Paris, que teve a cabeça cortada pelos pagãos que não aceitavam o cristianismo no século III.








Adoramos a subida, principalmente porque precisávamos economizar as pernas.

















Apesar do acrílico das janelas da cabine estar bastante riscado, já dava pra ter uma ideia da vista que teríamos mais acima.


Saindo do funicular, o acesso à igreja é feito por uma escadaria bastante larga que tanto pode funcionar como local pra se posar pra fotos...


















... como local de onde Paris pede para ser fotografada.















No local onde está instalada a Sacré-Coeur, existia um mosteiro beneditino que foi destruído no período da Revolução Francesa, quando todos os religiosos que a ocupavam foram guilhotinhados. Porém, o local continuou a ser considerado sagrado, inclusive por ter sido visitado por várias figuras santas, como Saint Germain, Santa Clotilde (a esposa de Clóvis, o unificador dos francos), São Bernardo, Santa Joana D'Arc e São Vicente de Paula e por ter sido o local onde Santo Ignácio de Loyola e São Francisco Xavier fundaram a Companhia de Jesus em 1534.  
  
A construção atual diferencia-se das demais igrejas de Paris por dois motivos: o fato de ser dedicada ao Sagrado Coração, em oposição aos vários templos erguidos em homenagem à Virgem Maria, e por seu estilo romano-bizantino, que se destaca entre as construções góticas que predominam na cidade.

Construída em mármore travertino vinda da região de Seine-et-Marne, na própria França, a igreja mantém-se branca pelo fato dessa pedra exsudar cálcio constantemente, o que a protege da deterioração causada pelas chuvas e pela poluição.

sábado, 2 de julho de 2011

Enfim, um legítimo francês!

Chegando ao hotel, resolvemos dar uma descansada básica antes de sairmos para o jantar, porque o cansaço era grande. A Natália avisou que não sairia conosco para o restaurante, fosse ele qual fosse, porque além de estar exausta, queria apreciar o que havia comprado no supermercado: bolachas, pãezinhos, chocolates e todas aquelas "bobagens" que quebram um galho quando não se quer sair pra comer.


A Rejane disse que iria comer com ela mas iria conosco, depois, ao restaurante, nem que fosse apenas pra tomar alguma coisa e jogar conversa fora.


Nesse dia eu havia conversado com a Anne, amiga do Vítor, pois ela estava encarregada de buscar a família da Nicole e o Vítor no aeroporto no dia seguinte, já que eles todos ficariam hospedados em sua casa. Em princípio nós achamos que seria uma boa encontrar-nos todos na sexta-feira para almoçarmos juntos, eles chegando a Paris e nós indo embora. Mas depois de conversar com Ivan, Natália, Rejane e Luís, chegamos à conclusão de que seria muito complicado - e arriscado. Caso o voo deles atrasasse, isso atrasaria o almoço e nos atrasaria para sermos pegos no hotel pela van da agência que nos levaria até o aeroporto para voltarmos ao Brasil. Portanto, liguei pra Anne novamente (e dessa vez consegui encontrá-la de primeira) e desmarquei o compromisso.


Tudo resolvido, nos encontramos no saguão do hotel e seguimos a pé para um restaurante próximo, com todo o jeito de bistrô francês mesmo: meia luz, mesas pequenas e bem próximas umas das outras e, o "melhor" da história, pra fechar a viagem com chave de ouro, o dono/gerente era também o típico francês, que faz cara feia quando se depara com turistas que não sabem muito bem falar a língua do país.

Sentamos, consultamos o cardápio, fizemos nossas escolhas e chamamos o indivíduo para fazermos o pedido. Eu comecei arriscando o francês "meia-boca" que já estava falando depois de quase uma semana em Paris e, pra facilitar, perguntei que língua ele falava. "Francês", respondeu o cretino, com aquele levantar de sobrancelhas pra indicar que eu era idiota por estar perguntando. Foi aí que o Ivan encheu o peito e lascou o pedido de tudo o que queríamos... em francês e levantando a sobrancelha!

Como era nossa última noite na cidade, levamos na boa e até comemoramos, pois até então, praticamente todo mundo tinha sido muito educado e prestativo, não havíamos ainda comprovado a falta de educação e o mau humor crônico dos franceses. Fora isso, a comida estava deliciosa e o ambiente era muito bom.

Aproveitamos para traçar os planos para o dia seguinte, pois teríamos que fazer o check-out do hotel até o meio-dia, mas a van da agência passaria pra nos pegar às 18h. O plano foi arrumar as malas e solicitar que fossem colocadas no guarda-volumes logo após o café da manhã. Sairíamos então para os últimos passeios - a Sacré-Coeur, Montmatre, Galeries Lafayette e o edifício da Ópera de Paris - e voltaríamos a tempo de fechar a conta, trocar a roupa que fosse necessária (que estaria na bagagem de mão) e pegar a van sem atrasos.