sábado, 7 de agosto de 2010

Portal de Sant'Ana

Dos três portais da fachada da Notre-Dame, o da direita é o mais antigo, tendo sido inserido na construção provavelmente por volta do ano 1200.


Trata-se do portal de Sant'Ana, mãe de Maria e avó do menino Jesus. Ao que tudo indica, seu tímpano (a parte triangular mais alta, onde ficam as imagens mais importantes) foi esculpido cinquenta anos antes da instalação e seu destino original não era a Notre-Dame, e sim a igreja de São Estêvão. A rigidez do vestuário dos personagens, bem como o pouco volume dado a eles e a postura frontal, caracterizam esse tímpano como tendo ainda características do estilo românico, diferentemente da catedral como um todo, que é uma das pérolas do estilo gótico.


Nele se pode ver a virgem Maria no ponto central, sentada sobre um trono e sob um dossel, coroada e portando um cetro. Jesus, sentado em seu colo, traz sobre os joelhos o Livro (as Sagradas Escrituras) e abençoa todos nós, encorajando os visitantes a entrar na igreja.

Há um anjo de cada lado do trono, e atrás de cada um deles, outros dois personagens: à esquerda um bispo, que alguns estudiosos identificam como sendo Saint German, bispo de Paris em meados do século VI e profundamente devotado à Virgem. Outros consideram que se trata de Maurice de Sully, tornado bispo da cidade em 1160 e responsável pela construção da catedral.

Diga-se de passagem que o local em que fica a Notre-Dame possui um histórico como sede de cultos religiosos. Os celtas já celebravam ali seus rituais e, posteriormente, os romanos construíram no mesmo sítio um templo dedicado a Júpiter. A basílica de Saint Etienne (Santo Estêvão), primeira igreja cristã de Paris, foi erigida nesse local no início do século VI, sendo depois derrubada e substituída por uma construção românica que durou até o início da construção da atual catedral.

Voltando ao tímpano, atrás do anjo da direita encontra-se um rei que também gera dúvidas quanto à sua identificação: alguns consideram que se trata de Childebert I, monarca que nomeou Saint Germain como bispo após ser por ele curado de doenças, vícios e da injustiça contra os pobres, sendo convertido ao cristianismo. Outros afirmam tratar-se de Luís VII, rei francês no período da construção da Notre-Dame.

Abaixo do tímpano há dois linteis - ou arquitraves - com frisos. O superior apresenta cenas da vida de Maria e da chegada de Cristo à terra, desde a Anunciação até a Epifania. O termo refere-se ao momento em que Ele dá-se a conhecer aos homens como filho de Deus, e o mundo cristão celebra com esse nome três eventos: a epifania perante os reis magos do Oriente (que é a que aparece no lintel), aquela à João Batista no Rio Jordão e a que marca o início de sua vida pública, ocorrido com o milagre das bodas de Caná.


No lintel inferior vêem-se cenas da vida de Joaquim e Ana, os pais de Maria. Por ter sido a última parte a ser colocada no portal, acabou por dar nome a ele (mesmo porque não há muita lógica em seu nome, considerando que a maior parte das imagens se refere à padroeira da igreja).




Sobre o tímpano há arquivoltas concêntricas representando a corte celestial: anjos, reis, profetas e os anciãos do Apocalipse exaltando a glória de Deus.











No pilar central da entrada fica a estátua de Saint Marcel, bispo de Paris no século V, representado vencendo um dragão, símbolo dos vícios que assolavam sua diocese.







Na lateral direita da entrada para a igreja há quatro estátuas: de São Paulo, cujo atributo é o livro, já que ele era o apóstolo culto, falava várias línguas e foi o responsável pela divulgação do cristianismo entre os gentios; do rei Davi, com um instrumento musical em suas mãos, representando os salmos que criava e entoava pra a glória de Deus; da rainha de Sabá, representada com um pergaminho nas mãos, indicativo de sabedoria e de um rei sobre quem não há qualquer identificação sobre quem seja.


Na lateral esquerda, outro grupo de quatro estátuas: de mais um rei "genérico"; de Betsabá, uma das esposas de Davi, por quem ele se apaixonou quando ela ainda era casada. Como ele era o rei, ordenou que o marido dela, Urias, durante uma guerra fosse colocado no local onde a batalha era mais violenta. Obviamente o pobre infeliz morreu e a situação dos amantes foi resolvida: ela tornou-se a oitava esposa (e a preferida) dele e o filho dos dois, Salomão, tornou-se herdeiro do pai no trono de Israel. Aliás, é ele quem está representado na terceira estátua, com o livro nas mãos, outro símbolo da sabedoria pela qual era conhecido. E o quarto é o mais fácil de ser identificado: São Pedro, portando as chaves que dão acesso ao paraíso, ou seja, a santa Igreja Católica.



Um comentário:

  1. Nossa! Quanta informação, hein? E num único portal!

    Muito legal poder saber e compreender tudinho, ou melhor, quaaaase tudo. Afinal, ainda há estátuas "genéricas" (hehehe) que, ainda hoje, ninguém descobriu quem elas representam, não é mesmo?

    Quais representações estarão nos demais portais? Ainda faltam dois!

    Abraços,

    Luís

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