domingo, 23 de janeiro de 2011

A mala

Saindo da Conciergerie voltamos todos ao hotel. Rejane e Natália resolveram aproveitar o tempo pra dar uma descansada; Ivan e Luís se prontificaram a me acompanhar até a loja onde eu deveria levar a mala avariada, até para me ajudar com a comunicação, já que o Ivan fala inglês bem e o Luís é craque no francês "capengá".

Eu já sabia onde tínhamos que ir, pois na noite anterior havia ligado para a agência da CVC e a guia, super solícita, deu todas as informações sobre linha do metrô, localização da rua etc. Ainda bem, porque no papel que o pessoal da TAM me entregou no aeroporto, o nome da rua estava grafado errado e eu não iria encontrá-la nunca, nem com todos os três mapas de Paris que tínhamos à disposição.

Saímos os três do hotel arrastando a mala (vazia, ainda bem) e fomos em direção à estação de metrô da linha 8, que ainda não conhecíamos. Enquanto esperávamos na plataforma chegou uma composição, e ainda bem que tinha gente querendo sair do trem numa das portas que parou perto de nós, porque era necessário acionar um botão para que a porta se abrisse. Se não fosse isso, iríamos ficar esperando a porta abrir sozinha - o que não aconteceria - e o trem seguiria em frente nos deixando com caras de bobos na plataforma.

A partir daí ficamos bastante espertos pra captar a especificade dos trens de cada linha. Outra coisa que já havia chamado nossa atenção e que nesse dia agradecemos, é que os trens de Paris não são formados por vagões separados entre si, eles são articulados como alguns dos ônibus que existem em São Paulo. Isso faz com que a ventilação seja excelente, porque quando o condutor acelera, o vento que vem das janelas da frente é canalizado e atravessa todo o espaço do trem. No calor que estava fazendo, era uma bênção! E também era muito divertido, quando o trem entrava ou saía de uma curva em grande velocidade, a gente olhar pra frente ou pra trás, dependendo do lugar onde estávamos, e observar a curva chegando ou o trem saindo dela.

Enfim, saímos do trem na estação Strasbourg-Saint-Denis e fizemos contato com a parte normal (não turística) de Paris, que o Ivan, numa primeira olhada, achou feia pra caramba. Nem era tão horrível assim, apenas ruas comerciais como as de qualquer outra cidade grande, com gente comum transitando. Mas havia uma diferença, e bastante significativa, que fez o Ivan rever seus conceitos: no meio de toda aquela confusão de trânsito, pedestres e barulho, ergue-se um magnífico arco do triunfo!


Conhecido como Porte Saint-Denis, esse arco foi construído em 1672 por ordem de Luís XIV em substituição ao portão original, construído no reinado de Carlos V, e que fazia parte das muralhas de proteção da cidade no período medieval. 

Ao invés de um novo portão Luís XIV ordenou a construção de um arco em homenagem às vitórias militares na conquista de duas regiões que hoje pertencem à França: o Reno e o Franco-Condado (Franche-Comté). Por isso, de um dos lados do arco o relevo representa a Passagem do Reno.





Além do nome Ludovico Magno na sua parte superior, o arco tem obeliscos em relevo nas suas laterais exibindo grupos escultóricos de troféus.    




Depois de apreciarmos o arco, começamos a procurar a tal rua d'Aboukir. E quem diz que achávamos? Olhamos o mapa e fomos para um lado, olhamos de novo e fomos para outro... e nada! Não teve jeito senão o Luís apelar para o seu incrível francês "capengá" e, enfim, chegamos à rua indicada.

Acostumados com o sistema de numeração brasileiro, onde cada imóvel tem o número referente à quantidade de metros que o separa do início da rua onde fica, acreditamos que a tal loja estaria próxima. Ledo engano! A numeração vai de dois em dois (par e ímpar de cada lado da rua, logicamente) independentemente do tamanho do imóvel, portanto, apesar de termos que chegar apenas ao cento-e-alguma-coisa, andamos um bocado. Quando chegamos ao local, um susto: não era uma loja com vitrine para a rua como as que estávamos vendo até então, e sim uma passagem que dava para... uma escada!

Juro que deu vontade de desistir: Arco do Triunfo no domingo, Pantéon na segunda, torres da Notre-Dame no mesmo dia... acho que já havíamos subido quase 1.000 degraus. Mas já estávamos por lá mesmo, fazer o quê? Subimos.

Chegamos a uma loja como as que há muito em São Paulo, sobre outros estabelecimentos que ficam no térreo, sem vitrines nem luxo, apenas os produtos expostos em prateleiras. O rapaz que veio nos atender, muito solícito, não era francês. Nem inglês. Muito menos português ou espanhol. Era JAPONÊS!

Imaginem a situação: um japonês atendendo um grupo em que um falava inglês, o outro um inglês razoável e um francês sofrível e eu muito mal ambas as línguas, mas relativamente eficiente na mímica. Lembramos na hora da Natália, que faz curso de japonês e adora orientais. Ela teria gostado bastante do moço...

De qualquer forma, começamos a nos entender em inglês, mas o engraçado foi quando, ao saber que éramos brasileiros, ele começou a falar de futebol e comentar sobre o Kaká justamente com o Ivan. Era possível que eu, com toda a minha indiferença pelo esporte, soubesse até mais do assunto, já que o Ivan não só não se interessa, mas não gosta mesmo de futebol, seleção e Copa do Mundo.

Enfim, mostrei ao rapaz a ordem de serviço da TAM e a mala e estava tentando dar alguns detalhes quando ouvimos em bom português: "Vocês querem ajuda?"

Era uma brasileira de São Luís do Maranhão, chamada Monique, que mora em Paris há quase 10 anos e coincidentemente estava na loja fazendo compras exatamente naquele momento. Agradecemos muitíssimo e já começamos a conversar com ela. A essa altura, o japonês já havia entendido o problema e sumiu com a minha mala pra uma outra sala da loja. Continuamos papeando com a moça e dali a pouco ele volta com uma mala novinha! Da mesma cor, mesma capacidade de bagagem, com rodinhas, perfeita! Só precisei assinar um documento comprovando que ele havia feito a troca. Nos despedimos dele e da moça e notamos que a porta da loja estava fechada: eram 17:45h e havia um aviso - que nós não havíamos visto quando chegamos - de que a loja fechava às 18h. Ao contrário do Brasil, onde os donos fecham as lojas no horário estabelecido e continuam a atender quem já está lá dentro, em Paris eles fecham a loja um pouco antes para que os últimos clientes saiam até o horário de fechamento. Com isso nos lembramos da brasserie onde tentamos comprar o pão na noite anterior e que foi fechada praticamente na nossa cara, entendendo que não havia sido nada pessoal contra turistas.

2 comentários:

  1. Dei muita risada com este post, na hora que vc viram o japonês deve ter sido hilário....

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  2. Posso imaginar o semblante do Ivan ao ouvir o japonês falar sobre futebol... heheh

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