domingo, 30 de janeiro de 2011

Rumo a Place de la Concorde

Saímos da cripta arqueológica da Notre Dame, que estava um forno, e fomos passar mais calor ainda na rua. Estávamos todos querendo - e precisando - nos "hidratar" segundo a terminologia do Luís, mas decidimos pegar o metrô e procurar um local pra fazer isso perto da Place de la Concorde, nossa próxima parada.

Emergimos perto da praça, o calor castigando, e seguimos uma das ruas em direção à Madeleine (a igreja que, até a restauração da Notre-Dame, foi a catedral de Paris), que chama a atenção por sua arquitetura de templo clássico grego.


Essa é uma região de comércio de alto nível, como percebemos ao entrar num misto de padaria e lanchonete chique pra tomar a nossa cerveja. Sentamos no balcão e fomos atendidos por um garçom que era tudo de bom! A única coisa não tão boa foi o preço, mas como eram apenas quatro cervejas e um refrigerante, o prejuízo não foi nada do outro mundo. Pior se tivéssemos entrado no Maxim's, que ficava logo à esquerda, no comecinho da Rue Royale...

Voltamos em direção à praça e começamos a observar e admirar seu entorno. Os dois prédios que ladeavam a rua por onde viemos fazem parte do projeto que criou a praça inteira e que foi desenvolvido por Ange-Jacques Gabriel na segunda metade do século XVIII. Ambos são idênticos e, atualmente, o da direita pertence à Marinha, enquanto que o da esquerda foi dividido em quatro lotes e cedidos à particulares.



O projeto original, aliás, se iniciou com a decisão de encontrar o melhor local para erigir uma estátua equestre de Luís XV para comemorar seu restabelecimento de uma doença. Inaugurada 15 anos após o nascimento da ideia e dando seu nome à praça, a estátua permaneceu nesse local por quase 30 anos, quando foi arremessada de seu pedestal no período da Revolução Francesa. Batizada de Praça da Revolução, nela foi erguida a guilhotinha onde ocorreu a execução da família real e de mais de mil outros condenados.

No refluxo da Revolução, Luís XVIII (irmão do rei que perdeu a cabeça, exilado em 1791 para não sofrer o mesmo destino, e que precisou esperar a abdicação de Napoleão, em 1814, para assumir o trono), pretendeu erigir no centro da praça um monumento em homenagem a seu irmão guilhotinado.

Esses planos foram assumidos por seu sucessor e irmão mais novo, Carlos X, que batizou a praça com o nome de Luís XVI. A estátua, porém, nunca foi erguida, pois a revolução de 1830 interrompeu os planos do rei, forçando sua abdicação e uma série de movimentos políticos que fizeram subir ao poder o rei Luís Felipe I, conhecido também como "o rei burguês", responsável por um regime mais liberal. É nesse momento que a praça recebe seu nome definitivo, como para sinalizar o fim dos violentos conflitos políticos que vinham ocorrendo desde o final do século anterior. 


Em 1831, o vice-rei do Egito ofereceu à França os dois obeliscos que marcavam o palácio de Ramsés II e Luís Felipe decidiu erguer um deles na Place de la Concorde onde "ele não lembrará nenhum acontecimento político".  
















 
 


Com mais de 22m de altura e pesando 227 toneladas, transportá-lo e erguê-lo foi uma verdadeira proeza, contada por meio de imagens e textos na base de 9m construída para acomodá-lo.







Os hieróglifos em seu corpo exaltam o faraó Ramsés II e a pirâmide dourada que cobre seu topo, feita em cobre e folhas de ouro, foi colocada em 1998.








Na primeira metade do século XIX, Jacques-Ignace Hittorff alterou alguns aspectos da praça obedecendo ao projeto original de Ange-Jacques Gabriel. Respeitando a proposta de um contorno octogonal, foram erigidas estátuas alegóricas de oito cidades francesas, como Lille...








... Brest,...











... Rouen...
















... e Strasbourg, entre outras. Sobre essa última alegoria, há um dado interessante: ao final da guerra franco-prussiana, os prussianos vitoriosos unificaram os territórios de fala e origem germânica criando a Alemanha, e entre as exigências feitas aos franceses derrotados, estava a cessão das regiões da Alsácia e da Lorena. Por esse motivo, a partir de 1871 a alegoria de Strasbourg foi coberta com um veu negro, retirado apenas com o fim da Primeira Grande Guerra, quando a França retomou esse território.

Todas as estátuas têm em comum uma espécie de coroa em forma de fortaleza, decerto identificando as muralhas da cidade, e estão sentadas ou com os pés apoiados sobre canhões, o que indica a ocorrência de guerras para que fossem conquistadas ou libertadas. Porém, cada uma delas carrega objetos diferentes: uma espada, o caduceu de Mercúrio, um pergaminho...

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