Mais alguns passos e voltamos à beira do Sena, chegando até a Shakespeare and Company. Trata-se de uma livraria fundada em 1951 como uma imitação da original, criada em 1919, e que foi um dos centros de criatividade da Paris dos anos 20 e 30. Sylvia Beach, a dona da livraria original, sempre buscou acolher e incentivar jovens escritores e foi nesse local o lançamento de Ulysses, de James Joyce, entre outras obras que hoje são clássicas.
Atualmente o local tornou-se mais conhecido por ser um dos pontos chaves do cenário do filme Antes do pôr-do-sol (maravilhoso!): é lá que, após 9 anos, os personagens principais se reencontram.
Continuando nosso passeio, fomos parar nos jardins da igreja de Saint Julien le Pauvre, em cujo centro havia um memorial formado por inúmeras lágrimas. O interior da igreja é extremamente simples, e como li num outro blog, "estranhamente bonita, quase inquietante". É uma construção com alma, há algo de muito forte dentro dela. Enquanto caminhava observando os detalhes dos arcos do teto, dos ícones nas paredes (a igreja é de rito católico grego), dos capiteis das colunas, fui ficando bastante emocionada. Dei uma disfarçada, já que não saberia explicar exatamente porque me sentia daquela forma, e foi então que ouvi uma fungada atrás de mim: a Rejane estava sentindo a mesma emoção que eu.
Continuando nossa caminhada, avistamos a igreja de Saint Séverin, construída entre os séculos XII e XIV e que, como toda igreja gótica que se preza, contava com inúmeras gárgulas para o escoamento da água da chuva, além do trabalho em relevo no tímpano.
A igreja é dedicada à Séverin, um eremita que ali teria vivido, rezando num pequeno e simples oratório. Depois de sua morte, uma basílica foi construída no local. Novamente temos a narrativa da destruição dessa primeira igreja pelos vikings - devem ser os mesmos normandos que acabaram com a Saint Julien, já que o termo "normando" vem de "north man", os homens do norte, ou seja, os vikings, que chegavam saqueando, pilhando e destruindo.
... outro, a passagem que descreve a história de Salomé e São João Batista...
... ou a vida de Santa Genoveva, padroeira de Paris, por ter evitado a invasão da cidade pelos hunos seguidores de Átila no século V. Entre os milagres que se atribuem a ela, está o de ter restaurado a visão de uma cega.
Outro santo evocado nesses vitrais é São Vicente de Paulo, nascido no final do século XVI, considerado o "padre mais santo do século" pela devoção e dedicação aos pobres e desvalidos, que entre outras coisas se preocupava em batizar as crianças abandonadas dos arredores de onde pregava e foi o responsável pela criação da Confraria da Caridade.
Há também um vitral coloridíssimo mostrando Santa Maria Madalena que, segundo uma antiga lenda do Ocidente, teria viajado para Provence, na França, para fazer um trabalho de evangelização, passando 30 anos de sua vida numa caverna.
A utilização do arco ogival na estruturação da igreja e a forma como eles se cruzam no teto, fazem de Saint Séverin um local privilegiado para o estudo da arquitetura gótica.
Chamam a atenção o pilar incomum, em forma de tronco de palmeira, bem como os vitrais modernos, na área do deambulatório (galeria que circunda o corpo principal da igreja e o altar, criado originalmente para que os os fieis em preregrinação pudessem fazer seu percurso sem atrapalhar o ofício religioso).
Ao lado da igreja, há um jardim onde os arcos ogivais se repetem, porém agora mais largos e não tão altos. O pátio central é cercado por uma galeria onde também as gárgulas estão presentes e o clima é de tranquilidade total.
Se eu me emociono em ler, como vc não ficaria, estando em lugares que tanto leu , estudou e imaginou...
ResponderExcluirSó quem tem esse espirito viajante, entende tamanha emoção, que aparece de repente , sem mais nem menos, faz parecer que o mundo parou e só aquele momento importa,é indescrítivel...