sexta-feira, 23 de julho de 2010

Torre de Saint Jacques

Segunda-feira, 5 de julho, nosso segundo dia em Paris (se não contarmos a tarde do dia em que chegamos). Estávamos por nossa conta, com muitas possibilidades de passeios.

Algumas semanas antes da viagem havíamos nos reunido e consultamos revistas, guias, o mapa de Paris, dicas de amigos e tudo o que nos pudesse ajudar a montar um roteiro. Levantamos as preferências de cada um, já que sabíamos que em uma semana seria impossível ver tudo o que há pra se ver, e definimos que os locais escolhidos seriam realmente curtidos e não objeto de uma passadinha rápida. Verificamos também que alguns museus fecham às segundas-feiras e outros às terças; desse modo organizamos as saídas pra não darmos com o nariz na porta de nenhum deles.

Nesse dia ficou definido que passearíamos pelo Quartier Latin, observando as ruazinhas medievais, visitando a livraria Shakespeare & Co., passando pela Sorbonne e o que mais descobríssemos de interessante. Essa era a minha escolha, porque incluía as termas de Cluny e o Museu da Idade Média.

Tomamos aquele café da manhã maravilhoso do hotel, só que dessa vez a Natália quis se sentar no sofazinho e quase aconteceu um desastre. É que o restaurante do hotel contava com mesinhas de dois ou quatro lugares, com cadeiras, e outras que ficavam próximas a sofás de dois lugares com banquinhos tipo puff do outro lado. Foi nessa que sentaram-se Luís, Natália e Rejane. Na hora de levantar pra pegar o café com leite, ovo mexido ou qualquer outra coisa, estava tudo certo, o problema era na hora de sentar novamente: os banquinhos deixam menos espaço entre as pernas e a mesa, comparados com as cadeiras. O Luís deu um tranco na mesa quando sentou-se de volta de uma das incursões, que chacoalhou as xícaras cheias de leite com café, derrubando um monte no pires, e por pouco não "virou a mesa."






Pegamos o metrô e descemos na place du Châtelet, que não estava em nenhum guia, mas tem um monumento com coluna e fonte que vale a pena ser visto.


















Quatro esfinges, na base da coluna, guardam a fonte e delas jorra a água.


De lá seguimos para a torre de Saint Jacques. Ela fica num jardim muito bonito, mas como ainda era bem cedo pelos padrões franceses - nove horas da manhã - havia mochileiros e mendigos dormindo nos bancos. Um deles, inclusive, ficou resmungando porque chegamos conversando e soltando exclamações admiradas.



























Jacques é Tiago, porque o nome original é hebraico, Yacov. Daí vieram Iacobus, que se desdobrou em Iacob/Iaco/Iago/Tiago, e também Jácome/Jaques (e no inglês, Jaume/Jaime/James, por isso o pai do Harry Potter é "James" no original e "Tiago" em português. Da primeira vez que eu li, achei absurdo, invenção da tradutora, mas aí fui procurar a informação e vi que ela estava certíssima!).

A torre foi o que sobrou da igreja original, construída no início do século XVI e que desde sua origem foi o ponto de partida para os peregrinos que partiam da França em direção a Santiago de Compostela, na Espanha. Como aconteceu com várias construções cristãs, a igreja foi parcialmente destruída na época da Revolução Francesa e posteriormente vendida como bem nacional. Seu novo proprietário demoliu praticamente tudo o que havia sobrado, deixando apenas a torre de pé.





















Em 1836 a cidade de Paris comprou esse campanário dando a ele a denominação de "torre" e tornando-a o ornamento de um dos primeiros jardins públicos parisienses. A restauração para deixá-la como está atualmente foi iniciada em 2006.

Segundo o Ivan, as gárgulas que decoram a torre são muito feias, e, por isso mesmo, muito bonitas, já que uma gárgula deve ser assustadora e não meiguinha e bonitinha.





A estátua do físico Blaise Pascal na base da torre se justifica, pois há registros de que suas experiências sobre o peso do ar, em 1648, foram realizadas ali.









Saint Jacques está representado no ângulo noroeste da torrre, sobre uma plataforma onde foi instalada uma pequena estação meteorológica no final do século XIX. Nos quatro cantos da torre, estão os símbolos dos quatro evangelistas: o leão (Marcos), o boi (Lucas), a águia (João) e o homem (Mateus) (pelo ângulo da foto, o boi ficou escondido).


Há também inúmeras estátuas de santos, mas a que nos chamou mais atenção foi a de santa Catarina, por causa de uma das minhas sobrinhas, que tem esse nome.

Catarina nasceu no início do século IV e era filha do rei de Chipre. Quando seu pai foi chamado para ser conselheiro do imperador romano Maximinus, ela seguiu com ele para Alexandria e, naquele ambiente intelectual, em que a filosofia estava na moda, antes dos 18 anos tinha se tornado uma moça bastante culta. Durante seus estudos, teve uma visão da Virgem Maria e do menino Jesus, convertendo-se ao cristianismo.

Quando o imperador iniciou uma perseguição aos cristãos, Catarina foi até ele e censurou-o por sua crueldade. Como ele não conseguiu argumentar com ela, chamou os seus filósofos para fazê-lo, mas todos eles acabaram convencidos pelos argumentos de Catarina.

Furioso, Maximinus a sentenciou a morrer queimada, do que poderia escapar caso aceitasse se casar com ele, o que ela recusou, o que fez com que fosse chamada de AEkatharina, em grego, "sempre pura". Como castigo foi açoitada e colocada numa cela, enquanto o imperador partia para inspecionar um campo de batalha. Nessa cela apareceram inúmeros pombos e ela teve outra visão de Cristo. Curiosos com o acontecimento, muitas pessoas foram visitá-la em sua cela, e quando retornou, Maximinus descobriu que sua esposa, Faustina, e mais 200 de seus homens também haviam sido convertidos.

Todos eles foram condenados à morte e Catarina ao suplício: ela foi amarrada a um poste e uma roda de madeira com pás de ferro seria passada por seu corpo, dilacerando sua carne. Porém, as algemas com as quais ela estava presa se quebraram e as lâminas saltaram para fora da roda, matando alguns dos espectadores. No auge da fúria, Maximinus determinou que ela fosse decapitada, mas ao invés de sangue, leite fluiu de seu corpo.

Por isso ela é representada com a pena na mão, símbolo do estudo e do conhecimento, e a roda de seu martírio na outra.
















3 comentários:

  1. Quem se interessa por fonologia - e alguém se interessa?! - deve perceber que a transformação mais estranha do nome do santo é de Iago para Tiago. Esse /t/ bizarro vem do costume de chamá-lo Santiago, tendo a palavra "santo" emprestado o fonema ao nome próprio.

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  2. Ê Luís, Capitão Catástrofe. Quase acaba com o café da manhã! Hehehe.

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  3. own, uma foto dedicada pra mim *---*
    tenho muita inveja dessa sua viagem, tia!

    beijoos,
    catarina

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