sábado, 17 de julho de 2010

Nos salões de Versalhes




Após algum tempo de fila, passamos para o pátio interno do palácio.





Como em outros locais, havia a possibilidade de se utilizar um audioguia, um aparelho parecido com um walkie-talkie com teclas numéricas. Por meio delas se escolhe a língua em que a informação será dada e teclar o código da sala ou local em que se está.

Um dos primeiros espaços a que temos acesso é o interior da capela real.

Em seguida há a galeria com estátuas dos reis de França.












A partir daí, um dos caminhos leva a uma sequência de salas em que estão expostas obras representativas da nobreza francesa - incluindo o rei, obviamente, e sua família - criadas nos séculos XVII e XVIII. É curioso observar que, ao contrário da estrutura arquitetônica mais recente, em que há um corredor de circulação e dele partem vários aposentos, em Versalhes uma sala leva a outra. Daí pode-se perceber que a noção de privacidade, tão cara a nós atualmente, era bem diferente em séculos anteriores.

Por exemplo, se existe um corredor de onde saem várias salas ou quartos, caso se queira entrar num desses aposentos presume-se que há que pedir permissão, seja batendo à porta, se ela estiver fechada, ou pedindo licença. No caso de várias salas interligadas que formam um caminho, a pessoa que quiser chegar à ultima delas terá que, forçosamente, passar por todas as anteriores, independentemente de quem as esteja ocupando e do que esteja sendo feito nela: leitura, conversa, música ou falar mal da vida alheia.

A sequência de imagens nessas salas do andar de baixo é bastante sugestiva quanto à forma como eram representadas a realeza e o poder.




Nesse primeiro quadro de Luís XIV, pode ser identificada a tradição do retrato conforme os cânones renascentistas: o personagem principal ocupa o centro do espaço pictórico e as duas mulheres que o servem, uma de cada lado, compõem a forma triangular, considerada a mais equilibrada. A imagem do rei é naturalista, suas características pessoais - formato de rosto, cabelos, barba - são enfatizadas e seu poder é expresso não apenas pela postura, mas também pela armadura, manto e coroa de louros.











Numa segunda sala, há uma sequência de imagens dos domínios do rei, espécie de planta ou mapa mostrando as terras governadas por ele. Trata-se de outra forma de expressar o poder real.




Na sala seguinte outra imagem de Luís XIV, agora no estilo neoclássico: não basta representá-lo com seus símbolos de poder, o rei deve ser equiparado ao maior dos deuses, superando-o. Obviamente não se trata de comparar-se ao deus cristão, o que seria considerado ímpio, mas a Júpiter, o mais poderoso dos deuses da antiguidade greco-romana.

Dessa forma, vê-se o rei com o pé sobre o escudo que transita entre Minerva, deusa guerreira da razão, e o próprio Júpiter. Também aos seus pés está a águia, ave representativa desse mesmo deus e que, posteriormente, vai ser assumida como símbolo do Império Romano. A vocação imperial e guerreira pode ser vista igualmente pelo trono em que o rei está sentado, o elmo e a aljava com as flechas ao lado do escudo. A trompa representa a poesia épica, mais um símbolo da atividade marcial.

No lado esquerdo do quadro pode ser vista uma forja, comandada por Vulcano, o deus ferreiro, auxiliado por um ciclope. Nela está sendo fabricada uma armadura e, anteriormente, devem ter sido forjados os raios que se encontram na mão de Luís XIV. Percebe-se que o rosto desse rei não é o mesmo que aparece no primeiro quadro: não se trata mais de uma imagem realista em que o poder é intrínseco ao indivíduo e sim de uma representação simbólica.



No último dos quadros de Luís XIV, ele volta a ser retratado com sua aparência real, mas a presença da coroa, do elmo, do banco cujos pés imitam patas de leão e do tecido com flores de lis douradas sobre fundo azul que cobrem a mesa, formam uma alegoria de seu poder: a flor de lis é o símbolo da França; a coroa, do poder real; o elmo, do poder militar, e as patas de leão sob o rei demonstram sua força. Dessa forma, seu poder não é expresso, como no primeiro quadro, simplesmente por sua pessoa, e sim pelos atributos dos objetos que o cercam.

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